O que acontece nesta doença é que o sistema imunitário não consegue distinguir as células do seu próprio organismo, de células estranhas ao corpo e começa a atacar os seus próprios tecidos, sendo este o motivo pelo qual se considera a EM uma doença imunomediada. Um dos principais alvos deste ataque é a mielina, uma camada de gordura que protege e envolve as fibras nervosas e que ajuda na transmissão de mensagens a diversas partes do corpo. Destes ataques resultam cicatrizes que se agrupam em estruturas conhecidas como áreas de «esclerose», por vezes denominadas igualmente por «placas» ou «lesões».
Com a progressão da doença, as lesões atingem milhares de fibras nervosas, afetando profundamente a transmissão das mensagens ao organismo. O nome de EM descreve então o processo de multiplicidade e aleatoriedade com que estas estruturas aparecem dispersas pelo cérebro, tronco cerebral, medula espinhal e nervo ótico.
Na EM a inflamação danifica ou destrói as bainhas de mielina das células nervosas, sendo este o motivo pelo que se considera esta doença como “desmielinizante”. Os axónios que ficam sem mielina deixam de poder conduzir adequadamente os impulsos nervosos e isso origina os sintomas neurológicos normalmente sentidos durante um surto de EM. Com o passar do tempo, é esta lesão axonal que justifica o carácter degenerativo (ou progressivo) atribuído à EM. Uma vez que a localização das regiões de desmielinização do SNC é imprevisível, a natureza dos défices neurológicos associados aos surtos pode ser muito diversa.
A progressão, o tipo e a gravidade dos sintomas ou danos subsequentes da Esclerose Múltipla são diferentes de pessoa para pessoa e são mesmo impossíveis de prever com rigor no momento do diagnóstico. No entanto, e apesar de a sua evolução variar, a maioria pode esperar uma vida normal ou próxima do normal. A medicação pode ajudar a viver uma vida plena e ativa, aliviando muitos dos sintomas e, o que é mais importante, atrasando ou estabilizando o seu curso.
Importa que saiba que a esperança de vida é aproximadamente equivalente à das pessoas não afetadas por EM e que cerca de metade pode esperar um curso da doença relativamente favorável, sem limitações graves. Apesar de não existir um padrão evolutivo homogéneo na Esclerose Múltipla, alguns fatores desempenham um papel significativo na sua evolução a longo prazo. Sabe-se, por exemplo, que em casos de incapacidade ligeira nos primeiros cinco anos, dois terços das pessoas permanecem relativamente estáveis durante um período de 15 anos.
Os seguintes fatores poderão ser indicadores de um prognóstico favorável:
Um surto é um dos sinais distintivos da Esclerose Múltipla (EM). Por definição, é a «ocorrência não provocada e não antecipada de um novo sintoma ou recorrência de um sintoma antigo, com um período de duração superior a 24 horas».
Durante um surto, os sintomas desenvolvem-se normalmente ao longo de alguns dias, permanecem constantes também durante dias ou semanas, diminuindo lentamente ao longo de um período de aproximadamente um mês. Durante este período de tempo, a pessoa recupera total ou parcialmente destes sintomas agudos. Por definição, para se considerarem dois surtos distintos num curto espaço de tempo, é necessário que entre o início de ambos exista um intervalo de 30 dias.
A EM é uma doença com elevado grau de imprevisibilidade. A progressão, o tipo, a gravidade dos sintomas ou danos subsequentes diferem de pessoa para pessoa, sendo muito difícil perceber quais as pessoas em que a doença irá progredir para uma forma mais avançada ou quais as que irão permanecer estáveis. A boa notícia é que apesar da evolução da doença variar muito de pessoa para pessoa, a maioria dos indivíduos com EM pode esperar uma vida normal ou muito próxima do normal. A medicação é uma grande ajuda no objetivo de viver uma vida plena e ativa, pois além de aliviar muitos dos sintomas consegue, muitas vezes, abrandar a progressão da doença.
1 – Livro “O ABC da Esclerose Múltipla”, de Catarina Fernandes, Celena Veloso Daniela Leal e Maria José Carvalho.
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