Perguntas frequentes

A esclerose múltipla (EM) é uma doença crónica, inflamatória e desmielinizante do sistema nervoso central, que é constituído pelo cérebro e medula espinhal. Trata-se de uma doença autoimune na qual as defesas do organismo, que normalmente o protegeriam de agressões, de forma errada atacam e destroem a mielina, uma camada de gordura que reveste as fibras nervosas. Estes ataques provocam cicatrizes que dificultam a transmissão de sinais nervosos entre o cérebro, a medula espinhal e outras partes do corpo. Identificar a doença precocemente é um passo essencial para tentar controlar a doença, prevenir novos sintomas e preservar a qualidade de vida.

Qualquer pessoa pode desenvolver Esclerose Múltipla, mas existem alguns padrões. Atinge maioritariamente os jovens adultos entre os 20 e os 35 anos, ocorrendo duas a três vezes mais em mulheres do que nos homens. Também foi demonstrado que fatores ambientais, como o tabagismo ou níveis baixos de vitamina D aumentam o risco de EM. A doença é observada na maioria dos grupos étnicos, incluindo afro-americanos, asiáticos e hispânicos/latinos, mas é mais comum em caucasianos de ascendência do norte da Europa.

A origem desta patologia permanece desconhecida. Pensa-se que fatores genéticos e fatores ambientais contribuem para o desenvolvimento da Esclerose Múltipla. Dos fatores ambientais, destacam-se o défice de vitamina D, a infeção pelo vírus Epstein Barr, que provoca a mononucleose, o tabagismo e a obesidade na infância/adolescência.

Esclerose Múltipla Surto Remissão (EMSR): é a forma mais comum da doença, caraterizada por períodos de surtos que, geralmente, voltam ao seu estado normal (estado de «remissão»). Um surto é um episódio agudo em que se manifestam um ou mais sintomas novos ou existe o agravamento de um sintoma já existente, e tem sempre uma duração superior a 24 horas.

Esclerose Múltipla Secundária Progressiva (EMSP): desenvolve-se após uma fase inicial de surto-remissão com duração variável (geralmente superior a 10 anos). Algumas pessoas com EMSP ainda apresentam surtos, mas, nesta fase, a recuperação dos sintomas experimentados no decorrer do surto já não é total em muitos dos casos e, com o tempo, estes passam por um aumento gradual e contínuo dos sintomas e do nível de incapacidade.

Esclerose Múltipla Primária Progressiva (EMPP): os sintomas agravam-se progressivamente desde o início do diagnóstico. A sua incapacidade evolui gradualmente e pode estabilizar em determinada altura ou continuar a agravar-se durante meses ou anos. Surge normalmente numa idade mais avançada, afetando normalmente pessoas com 40 anos ou mais, ocorrendo muito raramente em idades inferiores.

Os sintomas da EM são imprevisíveis e variam em tipo e gravidade de uma pessoa para outra e na mesma pessoa ao longo do tempo. Os sintomas podem desaparecer completamente ou podem persistir e piorar com o tempo. Os sintomas mais comuns da EM incluem fadiga, dormência, visão turva e dupla, fraqueza muscular, falta de coordenação, desequilíbrio, problemas urinários e sexuais, dor, depressão e problemas de memória e concentração.

Os sintomas da Esclerose Múltipla podem ser observados noutras patologias neurológicas e, por isso, é necessário que estas sejam excluídas antes de se fazer o diagnóstico. Para que o diagnóstico seja feito deverá ser confirmada evidência de desmielinização em dois pontos no tempo e em locais diferentes do Sistema Nervoso Central. Existem vários exames que podem ajudar ao diagnóstico, nomeadamente a ressonância magnética, os potenciais evocados e a punção lombar. Esta última é particularmente importante quando existem dúvidas.

Não. Na verdade, neste momento a maioria das pessoas com Esclerose Múltipla não fica gravemente incapacitada, antes pelo contrário. Essa é uma realidade que tem vindo a ser observada, desde que surgiram os fármacos modificadores da doença, que permitem atrasar a progressão da EM.

Nos estudos epidemiológicos mais antigos a esperança média de vida dos doentes com Esclerose Múltipla não era considerada muito diferente da população em geral, apesar de em doentes com elevada incapacidade poder ocorrer morte prematura por complicações, nomeadamente pneumonia. Em estudos mais recentes e comparando os doentes que foram tratados durante 21 anos com interferão beta com os que não foram medicados, verificou-se que nos doentes medicados houve uma maior sobrevida, o que aponta para um benefício a longo termo do tratamento.

Não. A Esclerose Múltipla não é contagiosa e não é considerada uma doença hereditária. No entanto, os estudos sugerem que os filhos de pais com EM têm cerca de 2 a 4% de possibilidades de desenvolver a doença, o que é um pouco superior ao risco da população geral.

Atualmente, sabe-se que a gravidez não tem um efeito negativo sobre a Esclerose Múltipla. Aliás, na maioria dos casos, a mulher grávida com EM experimenta um chamado “período de graça” hormonal, quase sem sintomas. Além disso, existem atualmente terapêuticas que permitem um planeamento da gravidez e outras mesmo que possibilitam a manutenção da medicação durante a conceção, a gravidez e o pós-parto.

Ainda não. Atualmente, existem medicamentos que demonstram “modificar” o curso da EM, limitando novas áreas de danos no sistema nervoso, reduzindo o número de recaídas e retardando a progressão da incapacidade. Além disso, muitos avanços terapêuticos e tecnológicos permitem hoje uma gestão mais eficaz dos sintomas.

Até meados da década de 1990, o tratamento à base de medicamentos só era possível para as recidivas (surtos) agudas da Esclerose Múltipla. Mas, com os primeiros fármacos modificadores da doença e com os fármacos que têm como alvo os mecanismos imunológicos específicos, tornou-se possível um substancial aumento na eficácia terapêutica em todas as fases da doença, especialmente na EM surto-remissão e na EM secundária progressiva. Recentemente, também alguns fármacos já demonstraram eficácia no tratamento da EM primária progressiva.

É importante porque os danos no sistema nervoso central ocorrem desde o início da doença, mesmo que não tenha sintomas, e podem vir a manifestar-se mais tarde, numa fase em que os tratamentos já não são tão eficazes. Estudos mostram que a melhor forma de reduzir a incapacidade a longo prazo é tratar e controlar a doença durante a fase surto-remissão precoce, que é caracterizada principalmente por inflamação. Como os medicamentos atualmente disponíveis atendem principalmente à inflamação, o tratamento é mais eficaz se iniciado precocemente, ajudando a minimizar essa inflamação e consequentemente a reduzir os danos irreversíveis nas fibras nervosas e a perda de tecido cerebral.

Antigamente pensava-se que o exercício físico agravava a doença, no entanto agora sabe-se que a atividade física é importante pois pode melhorar muitos dos sintomas da Esclerose Múltipla. De qualquer forma, a atividade deve ser adaptada as capacidades físicas de cada um.

Em Portugal, as associações de doentes são organizadas por pessoas também com Esclerose Múltipla e assumem um papel fundamental, em particular quando o diagnóstico da doença é recebido, pois é natural que nesta fase existam muitas dúvidas, apreensão e medo. No nosso país existe a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, a Associação Nacional de Esclerose Múltipla e a Associação Todos com a Esclerose Múltipla.

Fontes: