Sintomas da Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla (EM) pode provocar uma lista longa de sintomas, que dependem da localização no sistema nervoso das lesões desmielinizantes que existem em cada caso.

Assim, uma pessoa pode ter apenas um ou dois tipos de sintomas, enquanto outra poderá ter vários. As manifestações da doença variam de pessoa para pessoa, e os sintomas de cada pessoa variam ao longo do tempo.

Os sintomas podem surgir em qualquer ordem ou grau de intensidade. Podem ser vivenciados de forma transitória, como parte de um surto, ou ter um caráter mais persistente. Uma situação que deverá conhecer consiste no agravamento ou reaparecimento de sintomas que teve previamente, associado à elevação da temperatura corporal. Isto poderá acontecer, por exemplo, no contexto de febre, ou por exposição ambiental, como seja um banho quente.

O arrefecimento corporal e o descanso revertem estes sintomas. Este fenómeno, designado por fenómeno de Uhthoff, é transitório e não corresponde a um agravamento irreversível da doença. A maioria dos sintomas pode ser gerido eficazmente com medicação, reabilitação ou outras estratégias não medicamentosas. De seguida, explore os vários sintomas que podem surgir na EM.

Sintomas comuns na Esclerose Múltipla

As alterações da sensibilidade são muito comuns na Esclerose Múltipla, correspondendo à primeira manifestação da doença em cerca de 45% dos casos. Podem afetar a face, tronco ou membros, mas também a zona genital. Afetam apenas um lado do corpo ou ambos. São causadas por lesões localizadas nas vias sensitivas, nomeadamente na medula espinhal e no tronco cerebral.

Podem consistir na diminuição da capacidade de sentir o que geralmente sentia. Por exemplo, pode notar que sente menos quando toca em alguma coisa com a mão, que a sensação de picada é menos fina numa perna ou que no banho sente menos a diferença entre a água fria e quente numa parte do corpo. É também muito frequente a presença de sensações cutâneas anormais e desconfortáveis, que podem ser vivenciadas espontaneamente (disestesias) ou desencadeadas por estímulos normais como o toque (parestesias). Estas sensações são frequentemente descritas como “dormência”, “formigueiro”, “picadas de agulhas”, “queimadura”, “frio acentuado”, “choque elétrico”, “sensação de inchaço de um membro” ou de “escorrência/gotejamento”. Algumas pessoas podem ter a sensação de breve choque elétrico que percorre as costas e os membros e que é desencadeada pela flexão do pescoço. Este fenómeno é conhecido por Sinal de Lhermitte. Outras poderão ter a sensação desagradável de aperto à volta do tórax ou de uma articulação (em inglês chamada de “MS hug” ou “abraço da EM”).

Estas sensações podem ser apenas ligeiramente incómodas ou bastante dolorosas. Por outro lado, uma diminuição acentuada da sensibilidade pode interferir com a capacidade de utilizar a parte do corpo afetada. Por exemplo, uma dormência grave da mão pode perturbar tarefas finas como a escrita ou o apertar de botões; um pé muito dormente pode não sentir bem as irregularidades do chão, dificultando a marcha.

As alterações visuais são muito comuns na EM, e a sua evolução é frequentemente favorável. As manifestações mais comuns são explicadas de seguida.

Nevrite Ótica

Corresponde à inflamação do nervo ótico, um conjunto de fibras nervosas que transmite a informação visual do olho ao cérebro. Trata-se da primeira manifestação de EM em cerca de 25% dos casos, ocorrendo alguma vez ao longo da doença em cerca de 50-70% das pessoas. A nevrite ótica pode tratar-se de uma doença isolada, mas está fortemente associada à EM. Ou seja, nem todas as pessoas com nevrite ótica desenvolvem EM, mas uma proporção significativa sim (40-70%).

Ocorre geralmente de um lado e manifesta-se por dor ocular, sobretudo durante os movimentos do olho, visão turva e dificuldade em distinguir cores. Se tapar o olho não afetado, pode sentir como se estivesse a ver através de um vidro fosco, notar que as cores parecem desbotadas ou que os objetos vermelhos parecem pálidos ou acinzentados. A baixa de visão pode variar entre ligeira a grave. Pode notar que apenas uma zona do campo visual está afetada, por exemplo, que existe uma mancha ou ponto central (escotoma) de visão turva/cegueira com visão periférica preservada.

Os sintomas geralmente agravam progressivamente ao longo de horas ou dias, atingindo um pico em cerca de uma a duas semanas. Na maioria dos casos há recuperação da visão em cerca de dois meses. O tratamento com corticóides pode acelerar a recuperação.

Podem contudo persistir alguns sintomas residuais tais como sensibilidade à luz, dificuldade na perceção de profundidade ou avaliação de distâncias. É comum que volte a ter a sensação de visão turva de forma transitória no olho previamente afetado aquando da elevação da temperatura corporal, por exemplo após exercício físico ou banho quente, se estiver muito cansado ou após stress emocional. O arrefecimento corporal e o descanso revertem este fenómeno.

Visão dupla

A visão dupla ou diplopia é um sintoma frequente na EM, nomeadamente nas fases iniciais da doença. Ocorre quando há lesão das vias nervosas que controlam os músculos que fazem mover os olhos. Quando os olhos não estão perfeitamente alinhados durante os seus movimentos, produzem mensagens de visão não coordenadas, dando origem a uma imagem dupla do mesmo objeto. Pode ver uma imagem ao lado da outra ou uma em cima da outra. A visão de cada olho está habitualmente preservada, por isso, se tapar um olho de cada vez, consegue ver uma imagem só.

Se tiver diplopia como parte de um surto, vai geralmente recuperar total ou parcialmente; o tratamento com corticóides pode acelerar a recuperação. Pode ser indispensável fazer oclusão de um olho por pequenos períodos para o cumprimento de determinadas ações. Poderá estar indicado o uso de lentes corretivas. Se não houver recuperação a longo prazo, alguns casos poderão beneficiar de tratamento dos músculos que controlam a visão com toxina botulínica ou cirurgia para restaurar a posição simétrica dos olhos.

Nistagmo

O nistagmo consiste em movimentos ou oscilações involuntárias dos olhos. Estas oscilações são geralmente rápidas e podem ocorrer para cima e para baixo, para os lados ou de forma rotacional. Podem surgir quando olha em frente ou apenas em algumas posições do olhar. O nistagmo pode ser ligeiro e não notado pela pessoa afetada. Por outro lado, se persistente ou severo pode contribuir para tonturas, náuseas e problemas visuais, dando origem à sensação de oscilópsia, ou seja, sensação de movimento ou tremor das imagens.

Leia mais em: Aprender a lidar com sintomas físico-sensitivos.

As alterações motoras correspondem ao sintoma inicial em 30-40% das pessoas com EM. São comuns nas fases avançadas da doença, podendo interferir significativamente na mobilidade das pessoas afetadas. Os sintomas mais comuns são a fraqueza muscular e a alteração da tonicidade muscular ou espasticidade.

Fraqueza muscular

A fraqueza muscular ou parésia é um sintoma comum da EM. A lesão (desmielinização) de fibras nervosas, na espinal medula ou no cérebro, pode lentificar ou interromper a transmissão dos impulsos nervosos que ativam os músculos, tornando mais difícil contraí-los e movê-los de forma eficaz. Pode ocorrer transitoriamente nas fases iniciais da doença (durante um surto) ou de forma constante nas fases mais avançadas da doença. Pode afetar qualquer parte do corpo, mas, mais frequentemente, um (monoparesia) ou ambos os membros inferiores (paraparésia) ou os membros superior e inferior do mesmo lado (hemiparésia). Pode ser ligeira e sentida como diminuição da tolerância ao exercício. Se mais acentuada, os movimentos voluntários da parte afetada podem tornar-se débeis e limitados, podendo perturbar a capacidade para caminhar, por exemplo.

A fraqueza muscular pode também ser secundária a um processo de descondicionamento. Este fenómeno deve-se a uma diminuição no nível global de atividade física causado frequentemente por fadiga, dor, desequilíbrio ou outros sintomas de EM. Um grupo muscular pouco utilizado, torna-se fraco. Para prevenir este tipo de fraqueza, deve manter-se o mais ativo possível.

Espasticidade

O aumento do tónus muscular que ocorre na EM designa-se por espasticidade e traduz-se num aumento da tensão muscular e resistência à mobilização dos membros. Cerca de 60 a 90% das pessoas com EM são afetadas por este sintoma em algum ponto da doença. Afeta mais frequentemente os membros inferiores.

Pode ser ligeira ou, por outro lado, ter um impacto significativo na qualidade de vida e atividades diárias das pessoas afetadas. É frequentemente descrita como sensação de músculos rígidos, pesados e difíceis de mover, podendo manifestar-se como dor, tensão à volta das articulações ou dificuldades na marcha. Por exemplo, as pernas podem tornar-se pesadas com a sensação de “ficarem presas” no chão, sobretudo após longos períodos de caminhada ou os movimentos tornam-se mais lentos, sendo difícil executar movimentos rápidos. Quando grave, pode ser difícil dobrar ou mover livremente um membro, podendo dificultar, por exemplo, a higiene. Pode ainda manifestar-se por espasmos musculares, que correspondem à sensação súbita de aperto ou contração de um membro que pode desencadear um movimento involuntário (por exemplo esticar ou dobrar a perna). Os espasmos podem ser pouco incómodos ou dolorosos e provocar quedas. A espasticidade pode ser influenciada por fatores externos como o stress, as condições atmosféricas, a dor ou por situações infeciosas associadas. Algum grau de espasticidade pode contudo ser útil, particularmente nas pessoas com fraqueza muscular significativa. Ao conferir alguma rigidez, pode facilitar que continue a estar de pé, caminhar ou fazer transferências.

Os problemas do equilíbrio e coordenação motora são comuns na EM. O tronco cerebral e o cerebelo são as regiões do sistema nervoso que organizam estas capacidades e são frequentemente afetados na EM. Podem ser vivenciadas como tonturas/vertigem, ataxia (descoordenação motora) ou tremor.

Vertigem

Pode ocorrer em cerca de 20% das pessoas com EM, no início ou durante a evolução da doença. Corresponde à sensação incómoda de que o ambiente à sua volta está em movimento (que está a rodar à sua volta) ou à sensação errada de que o seu corpo está a oscilar (por exemplo, como se estivesse num barco). Pode associar-se a náuseas e vómitos.

Na EM a vertigem é tipicamente causada por lesão do tronco cerebral. Porém, existem outras causas de vertigem e tonturas não relacionadas com a EM (por exemplo relacionadas com problemas do ouvido) que também podem acontecer nas pessoas com EM e devem ser excluídas clinicamente, uma vez que podem ter um tratamento distinto.

Ataxia

Ataxia é o termo médico para a alteração da coordenação do movimento dos músculos. Não se manifesta de igual modo em todos os indivíduos. Pode incluir:
– Descoordenação motora dos membros: pode sentir, por exemplo, que a mão está desajeitada ou que tem dificuldade em efetuar movimentos específicos de forma suave, tais como agarrar objetos de pequena dimensão (por exemplo, chávena ou colher);
– Dificuldade em equilibrar o tronco ou ataxia da marcha, que consiste numa marcha cambaleante, com os pés afastados, semelhante à marcha de um indivíduo embriagado;
– Descoordenação do movimento dos olhos ou dificuldade em articular palavras.

Tremor

Consiste no movimento involuntário e não controlado (oscilação rítmica) de partes do corpo. É um sintoma comum encontrado em várias doenças neurológicas como a doença de Parkinson e a EM, podendo também ser provocado por medicação. Pode também ser familiar e benigno.

Na EM, surge frequentemente associado à ataxia. Na EM, o tipo mais comum de tremor é o tremor de intenção ou tremor cerebeloso. Este é um tipo de tremor que agrava durante o movimento do membro afetado, com aumento da oscilação do braço à medida que se aproxima do objeto que quer alcançar ou quando tenta tocar no nariz. Algumas pessoas com EM podem também apresentar tremor postural, que ocorre quando tenta manter uma determinada postura. O tremor pode dificultar a realização de atividades simples, como vestir ou comer e, em alguns casos, ter impacto emocional e social significativo.

Se a doença não for tratada e controlada, vários sintomas da EM podem acabar por afetar a sua mobilidade e capacidade para caminhar, tais como: fraqueza muscular, espasticidade, ataxia ou perturbação do equilíbrio, alteração da sensibilidade dos membros inferiores e fadiga. Quando não existiam tratamentos eficazes modificadores do curso natural da doença, o tempo médio entre o início dos sintomas e a necessidade de utilização de canadiana para caminhar era de cerca de 20 anos.

Os sintomas mais comuns da EM incluem fadiga, dormência, visão turva e dupla, fraqueza muscular, falta de coordenação, desequilíbrio, problemas urinários e sexuais, dor, depressão e problemas de memória e concentração.

Estima-se que 50 a 90% das pessoas com EM possam desenvolver alguma forma de disfunção do tracto urinário baixo ou intestinal, durante o curso da doença.

Alterações urinárias

A urina é produzida pelos rins, viaja por dois tubos (ureteres) até à bexiga, o reservatório elástico onde é armazenada. Quando a bexiga está cheia e a pessoa se prepara para urinar, o cérebro e a espinal medula sinalizam um reflexo complexo de micção que faz com que duas coisas aconteçam simultaneamente: 1) o músculo da parede da bexiga (detrusor) contrai para empurrar a urina para fora da bexiga; 2) o esfíncter externo (que normalmente permanece fechado) relaxa para permitir a passagem de urina.

Cerca de 80% das pessoas com EM podem apresentar sintomas urinários, provocados por lesão de áreas do cérebro ou medula que têm um papel importante no controlo da função da bexiga. Estes sintomas traduzem a presença de uma bexiga espástica (detrusor hiperativo) que tem dificuldade em armazenar urina; de uma bexiga que não esvazia apropriadamente (retém urina no seu interior) ou da combinação de ambas. Os sintomas urinários podem incluir:

  • Necessidade de urinar frequentemente durante o dia (frequência urinária ou polaquiúria) ou durante a noite (noctúria);
  • Urgência urinária, ou seja, necessidade quase compulsiva de urinar ou ir rapidamente à casa de banho;
  • Incontinência urinária;
  • Hesitação no início da micção;
  • Retenção urinária ou incapacidade de esvaziar completamente a bexiga.

Se não forem tratadas, as alterações urinárias causadas pela EM podem associar-se a infeções urinárias de repetição, problemas renais, agravamento de outros sintomas (como espasticidade e fraqueza), perda de independência e auto-confiança. A disfunção urinária não se relaciona com a duração da doença, mas sim com a presença de outros sintomas neurológicos, nomeadamente alterações motoras.

Alterações intestinais

Podem também ocorrer alterações intestinais, em cerca de 50% das pessoas com EM, causadas por lesões que interrompem as mensagens entre o cérebro e as várias partes do sistema digestivo. O sintoma mais comum é a obstipação. De forma menos frequente, podem ocorrer episódios de incontinência fecal ou diarreia. Para a obstipação podem contribuir ainda a diminuição da ingestão de líquidos, redução da mobilidade/atividade física e os efeitos secundários de algumas medicações.

Ao longo do curso da doença, cerca de 70% das pessoas com EM podem apresentar algum sintoma de disfunção sexual. Contudo este tipo de problemas é também comum na população geral. Na EM, estes sintomas podem ser atribuíveis a lesões desmielinizantes do sistema nervoso que afetem a resposta sexual, porém podem ser também secundários a outras alterações físicas provocadas pela doença (como a fadiga, espasticidade, dor, disfunção urinária ou intestinal) ou a problemas culturais ou emocionais (como a depressão e a ansiedade).

Os homens podem queixar-se de disfunção eréctil, dificuldades na ejaculação, diminuição da libido e sensação genital diminuída. As mulheres podem referir diminuição da libido, anorgasmia, diminuição da lubrificação vaginal e da sensibilidade genital.

Pode sentir algum desconforto e resistência inicial em abordar este tema nas suas consultas, contudo existem abordagens específicas para tratar estes problemas e impedir que sejam responsáveis por uma perda significativa de qualidade de vida. É necessário que os problemas, dúvidas e questões sejam verbalizados sem tabus.

Leia mais em: Aprender a lidar com a disfunção sexual, vesical e intestinal.

A fadiga afeta cerca de 80% das pessoas com EM. Além de ser um dos sintomas mais comuns desta doença, é frequentemente considerado um dos mais incapacitantes. Pode ser o sintoma mais proeminente em pessoas sem outras limitações signiticativas associadas à doença, podendo associar-se a abandono precoce do emprego e diminuição significativa da qualidade de vida.

É diferente do sentimento de cansaço ou exaustão que as pessoas sem EM podem vivenciar depois de um exercício vigoroso ou um dia de muito trabalho. Apesar de ser difícil de definir e quantificar, podemos dizer que corresponde a um sentimento subjetivo de falta de energia física ou mental que interfere com as atividades do dia a dia. Pode surgir como:

  • Astenia ou fadiga durante o repouso;
  • Fadiga durante a atividade física, envolvendo frequentemente a perda súbita de energia associada à incapacidade de continuar uma tarefa;
  • Sensação de agravamento progressivo dos seus sintomas de EM durante a atividade física, com recuperação após repouso.

Quando presente, pode ainda agravar sintomas cognitivos como os problemas de memória e de concentração. Distingue-se da fadiga normal por ser mais intensa, agravar significativamente com o calor e com a humidade, poder surgir logo de manhã (mesmo após o sono), agravar ao longo do dia e poder surgir e desaparecer subitamente.

Como “sintoma invisível” da EM, a fadiga nem sempre é bem entendida pelas pessoas que o rodeiam, que podem pensar que está deprimido ou pouco motivado, o que pode ser fonte de frustração. Utilize exemplos práticos para se fazer compreender. Algumas pessoas com EM descrevem a fadiga como o sentimento de caminhar com um fato pesado ou dentro de uma piscina com água até ao pescoço. Aprenda estratégias para gerir este sintoma.

Leia mais em: Aprender a lidar com os sintomas psicossociais.

Alterações cognitivas

As alterações cognitivas podem afetar mais de metade das pessoas com EM e interferir com a sua qualidade de vida. A cognição é a aquisição de conhecimento e uma forma do cérebro aprender, perceber, pensar e recordar através da informação captada pelos cinco sentidos. O padrão de deterioração cognitiva não é uniforme, mas as funções que mais frequentemente são afetadas na EM são:

  • Memória recente;
  • Processamento de informação: por exemplo, pode sentir dificuldade em seguir uma série complexa de instruções, particularmente se a informação for transmitida rapidamente;
  • Fluência verbal: por exemplo, pode sentir que uma palavra está “na ponta da língua”, mas não consegue encontrá-la e dizê-la rapidamente;
  • Concentração e atenção: por exemplo, se tentar realizar várias tarefas ao mesmo tempo ou se várias pessoas estiverem a falar simultaneamente;
  • Capacidades de planificação de tarefas e resolução de problemas;
  • Perceção espacial e visual: importante por exemplo para avaliar distâncias e velocidade quando conduz, para conseguir orientar-se num mapa.

Além de serem diretamente causados pela EM, as dificuldades cognitivas podem ser agravadas pela fadiga, depressão e ansiedade.

Para a maioria das pessoas com EM, os sintomas cognitivos são relativamente ligeiros, flutuam de dia para dia e envolvem apenas uma ou duas áreas de funcionamento cognitivo. Numa minoria, as alterações cognitivas podem ter maior gravidade e impacto funcional. Aprenda estratégias para suavizar estes sintomas.

Alterações psicológicas

Depois do diagnóstico, a negação da doença e a ansiedade relativamente ao futuro são emoções comuns. Medo, raiva, sentimentos de culpa, tristeza, revolta e alterações de humor graves podem também ser reações ao diagnóstico.

Durante a evolução da doença, as pessoas com EM frequentemente sentem que o seu humor e emoções podem ser afetados, podendo notar sintomas de ansiedade, depressão ou irritabilidade extrema. Estas podem dever-se ao stress de ter uma doença crónica como a EM, mas em parte podem atribuir-se à lesão do sistema nervoso provocada diretamente pela doença.

Cerca de 50% das pessoas com EM podem sofrer de depressão (tristeza excessiva patológica) em algum momento da doença. Na maioria dos casos, corresponde a uma depressão moderada e reativa. Contudo, a ideação suicida e o suicídio podem ser complicações importantes da depressão na EM que devem ser prevenidas. É muito importante que saiba reconhecer alterações de humor e, se for o caso, informar o seu médico ou enfermeiro.

De forma pouco comum, as pessoas com EM podem ainda sentir: euforia (alegria excessiva e não justificada); ou que estão a expressar emoções de forma pouco adequada, rindo-se ou chorando de forma descontrolada e desproporcional ao que estão a sentir. Este último fenómeno denomina-se de perturbação do afeto pseudobulbar.

Leia mais em: Aprender a lidar com os sintomas psicossociais.

A dor é um sintoma comum e por vezes subvalorizado da EM, sendo reportada por cerca de metade das pessoas afetadas por esta doença. Pode estar diretamente relacionada com a EM ou ser secundária a alterações músculo-esqueléticas promovidas pela espasticidade ou imobilização. A dor diretamente causada pelo processo desmielinizante no cérebro ou na medula, denominada de dor neuropática, pode ter um caráter agudo ou crónico. De forma aguda ou transitória, pode manifestar-se como:

Nevralgia do trigémeo: uma dor tipo choque eléctrico que afeta um dos lados da face; pode ocorrer durante um surto da doença e é causada por desmielinização do nervo trigémeo (responsável pela sensibilidade da face);


Sinal de Lhermitte: sensação de choque eléctrico que percorre as costas e os membros e é desencadeada pela flexão do pescoço. Quando ocorre pela primeira vez, pode corresponder a um surto da doença;


Espasmos tónicos: contração involuntária e extremamente dolorosa dos músculos, por exemplo do braço ou da perna, que ocorre várias vezes ao longo do dia;


Nevrite ótica: um dos sintomas dos episódios de inflamação do nervo ótico é a presença de dor ocular, sobretudo durante os movimentos do olho;


“MS hug” ou “abraço da EM”: sensação desagradável de aperto à volta do tórax, geralmente causado por lesão da espinal medula; pode ocorrer como primeiro sintoma da doença ou durante um surto.

A dor neuropática de caráter crónico corresponde às disestesias, ou seja, sensações cutâneas anormais e desconfortáveis que afetam mais frequentemente os membros e que podem ser vivenciadas como “picadas de agulhas”, “choque elétrico”, “formigueiro”, “queimadura” ou “comichão”, por exemplo.

Na EM, pode ainda existir dor relacionada com a administração de terapêutica injetável, resultante de infeções (por exemplo, infeções urinárias) ou independente da doença neurológica, ou seja, que ocorre por doenças de outros órgãos, tal como acontece nas pessoas sem EM.

Sintomas menos frequentes

A dificuldade em articular as palavras (disartria) ou alteração do volume da voz (disfonia) pode afetar cerca de 25-40% das pessoas com Esclerose Múltipla, especialmente em fases avançadas da doença ou durante períodos de fadiga extrema. Pode ainda sentir dificuldade em lembrar-se de uma palavra específica que quer dizer durante o discurso rápido. Ocorrem por lesão nervosa de partes do cérebro responsáveis pela coordenação dos músculos da boca e faringe ou linguagem

A disfagia (dificuldade em engolir), resulta da fraqueza ou falta de coordenação dos músculos da boca, língua e faringe. Pode afetar até 45% das pessoas com EM ao longo da evolução da doença. Pode associar-se ao risco de engasgamento que pode complicar-se com infeções pulmonares potencialmente graves. É importante reconhecer este sintoma atempadamente e implementar as estratégias necessárias para o contornar.

Podem existir problemas respiratórios quando existe lesão dos nervos que controlam os músculos do tórax e do abdómen responsáveis pela respiração. A fraqueza destes músculos pode manifestar-se como aumento do esforço necessário para respirar durante as atividades ou exercício físico.

As crises epiléticas podem ocorrer em cerca de 2-5% das pessoas com EM, comparativamente com cerca de 0,5% da população geral. Resultam da formação de descargas elétricas anormais nas cicatrizes formadas no cérebro nas zonas afetadas pela desmielinização

Ocasionalmente, as pessoas com EM desenvolvem problemas auditivos sem que existam problemas nos seus ouvidos, mas sim por lesão das áreas do sistema nervoso que interpretam o som. Cerca de 5% das pessoas com EM desenvolvem diminuição da audição, que pode ocorrer durante um surto e que tende a recuperar; raramente, pode corresponder ao primeiro sintoma da doença.

Sintomas secundários e terciários

Os sintomas primários da EM, descritos previamente, são consequência direta das lesões do sistema nervoso que ocorrem na doença. Por outro lado, os sintomas secundários são aqueles causados pelas manifestações neurológicas da doença.

Alguns exemplos podem incluir: atrofia muscular causada pela inatividade física; infeções urinárias de repetição associadas a problemas de funcionamento da bexiga; feridas cutâneas, osteoporose e contraturas causadas por imobilização prolongada.

 Por fim, consideram-se terciários, os sintomas que resultam do impacto psicossocial da doença, tais como a deterioração de relações familiares ou laborais, ou a depressão.

Fontes:

1 – Fernandes C et al. “O ABC da Esclerose Múltipla. O seu apoio a cada momento” Edição Merck (2018)

2 – Compston A et al. “McAlpine’s Multiple Sclerosis”, Elsevier (2006)

3 – Fernandes C et al. “O ABC da Esclerose Múltipla. O seu apoio a cada momento” Edição Merck (2018)

4 – Compston A et al. “McAlpine’s Multiple Sclerosis”, Elsevier (2006)

5 – Giesser BS. “Primer on Multiple Sclerosis”. Oxford Univertisy Press (2016)

6 – Fernández O et al. “La Esclerosis Múltiple, hoy”. Línea de Comunicación (2015)

7 – National Multiple Sclerosis Society website (www.nationalmssociety.org)

8 – MS Trust website (https://www.mstrust.org.uk)