Surtos de Esclerose Múltipla na gravidez

Existe a probabilidade de haver mais surtos com a gravidez?

Ao contrário do pensado, a taxa de surtos durante a gravidez diminui de forma acentuada nas mulheres grávidas com Esclerose Múltipla (EM), particularmente durante o terceiro trimestre (aproximadamente 70%).1

Sabe-se, hoje, que a gravidez corresponde a um período de menor atividade da doença. Esta espécie de “estado de graça”, que se pensa resultar do aumento do nível dos estrogénios, permite uma redução da atividade inflamatória associada à Esclerose Múltipla.

Contudo, a probabilidade de existir um surto pode aumentar nos primeiros meses após o parto. No total, o risco de surtos durante todo o ano que corresponde aos 9 meses da gravidez e aos primeiros 3 meses após o parto é semelhante ao de uma mulher com EM não grávida. Estes dados correspondem à história natural da gravidez em mulheres com EM e baseiam-se num grande estudo observacional realizado na Europa no final dos anos 90, que incluiu 227 grávidas com Esclerose Múltipla; estas mulheres não foram submetidas a tratamento modificador da doença durante a gravidez e a grande maioria também não o realizou nos meses após o parto.

Sabe-se também que frequência de surtos depois do parto se relaciona com o número de surtos no último ano antes da gravidez, ou seja, um último ano sem surtos, aumenta a probabilidade de não ter surtos durante a gravidez no pós-parto. Portanto, se quer engravidar, deve planear fazê-lo num período em que a doença esteja controlada. Alguns estudos, que avaliaram o potencial efeito benéfico da gravidez no risco de desenvolver Esclerose Múltipla, apontam ainda para uma diminuição do risco de desenvolver a doença nos dois a cinco anos seguintes à gestação.

Referências Bibliográficas:

1 – Confavreux C, Hutchinson M, Hours MM, Cortinovis-Tourniaire P, Moreau T. Rate of pregnancy-related relapse in multiple sclerosis. Pregnancy in multiple sclerosis group. N Engl J Med. 1998;339:285-91;

2 – Ponsonby AL, Lucas RM, van der Mei IA, Dear K, Valery PC, Pender MP, et al. Offspring number, pregnancy, and risk of a first clinical demyelinating event: the AusImmune study. Neurology. 2012;78:867-74

E se tiver um surto enquanto estou grávida?

Se tiver um surto e o seu neurologista achar que precisa de fazer uma ressonância magnética (um exame ao seu corpo que usa campos magnéticos), pode fazer uma enquanto está grávida.1-3

Se tiver um surto grave, que o seu neurologista acredita que deve ser tratado, há corticóides que pode tomar enquanto está grávida.4

Se tiver um surto muito grave e os corticóides não funcionarem, o seu neurologista poderá propor-lhe um tratamento chamado troca de plasma para «limpar» o seu sangue.1-3

Referências:

1 – Dobson R, Dassan P, Roberts M, et al. UK consensus on pregnancy in multiple sclerosis: ‘Association of British Neurologists’ guidelines. Pract Neurol 2019;19:106–14

2 – Bove R, Alwan S, Friedman JM, et al. Management of multiple sclerosis during pregnancy and the reproductive years: a systematic review. Obstet Gynecol 2014;124:1157–68

3 – Coyle PK, Oh J, Magyari M, et al. Management strategies for female patients of reproductive potential with multiple sclerosis: an evidence-based review. Mult Scler Relat Disord 2019;32:54–63

4 – Kaplan TB. Management of demyelinating disorders in pregnancy. Neurol Clin 2019;37:17–30

Vou ter um surto após o nascimento do meu bebé?

Cerca de 1 em cada 10 mulheres poderá ter um surto nos primeiros 3 meses após o nascimento do bebé. Poderá ser pouco provável que tenha um surto após o parto se, durante os 2 anos antes de engravidar, tiver a sua doença controlada.1

O tipo de parto (se vai ter um parto normal ou cesariana) vai depender do seu trabalho de parto e não afetará o seu risco de ter um surto após dar à luz.2

Se a sua EM antes e durante a gravidez era ligeira, o seu neurologista irá provavelmente vigiá-la de perto e aconselhá-la a recomeçar a tomar um medicamento para a EM se precisar de o fazer.3 Se tinha EM muito ativa antes da gravidez, o seu neurologista poderá sugerir que recomece a tomar um medicamento para a EM o mais rápido possível após o parto.

Referências:

1 – Hughes SE, Spelman T, Gray OM, et al. Predictors and dynamics of postpartum relapses in women with multiple sclerosis. Mult Scler 2014;20:739–462 – Pastò L, Portaccio E, Ghezzi A, et al. Epidural analgesia and cesarean delivery in multiple sclerosis post-partum relapses: the Italian cohort study. BMC Neurol 2012;12:165

3 – Amato MP, Bertolotto A, Brunelli R, et al. Management of pregnancy-related issues in multiple sclerosis patients: the need for an interdisciplinary approach. Neurol Sci 2017;38:1849–58