Qual o impacto da menopausa na esclerose múltipla? Sendo esta uma doença que afeta mais as mulheres, trata-se de uma questão que suscita dúvidas sobre como as alterações hormonais podem influenciar a evolução da doença. A resposta surge agora em forma do maior estudo do género, com boas notícias: a menopausa não está associada a um risco aumentado de incapacidade.
Publicado na revista científica JAMA Neurology, o projeto, liderado pela Universidade de Monash, na Austrália, quis avaliar se a menopausa modifica o risco de progressão da incapacidade em mulheres com esclerose múltipla de surto-remissão e conclui que isso não acontece.
Estudos anteriores pouco conclusivos
A esclerose múltipla é uma doença crónica, autoimune e neurodegenerativa que afeta os sistemas imunitário e nervoso e impacta três vezes mais mulheres do que homens.
Vilija Jokubaitis, autora sénior deste estudo e professora do Departamento de Neurociências da Escola de Medicina Translacional da Universidade Monash, esclarece que, até ao momento, o impacto da menopausa na trajetória da esclerose múltipla permanecia incerto. “A incapacidade associada à doença geralmente piora tanto nos homens como nas mulheres à medida que as pessoas envelhecem, com uma mudança notável por volta dos 50 anos, que também é a idade da menopausa para a maioria das mulheres”, explica.
“Durante a perimenopausa, a quantidade de estrogénio e progesterona oscila bastante, antes de os níveis destas hormonas descerem significativamente quando se atinge a menopausa. Neste estudo, questionamos se a perda de hormonas poderá ser a razão para o agravamento da esclerose múltipla nas mulheres na meia-idade”, refere, reforçando que outros estudos já o tinham feito, mas não só eram de pequena dimensão, como relataram resultados conflituantes.
“O nosso é o maior estudo do género e constatou que a menopausa não está associada a um risco aumentado de acumulação de incapacidade nas mulheres com esclerose múltipla. Portanto, o aumento da incapacidade que observamos por volta dos 50 anos não se deve diretamente à menopausa, mas provavelmente a outros processos de envelhecimento que afetam todas as pessoas, independentemente do seu género.”
Dados importantes para os médicos
O estudo utilizou dados do MSBase Registry, o maior registo mundial de resultados clínicos de esclerose múltipla, que acompanha mais de 120.000 pessoas com a doença em todo o mundo. Foram ainda observadas 987 mulheres australianas, recrutadas em oito centros especializados em neuroimunologia, 40% das quais (404) já tinham entrado na menopausa, que foram acompanhadas, em média, durante cerca de 14 anos.
A especialista considera que “os resultados do estudo são particularmente importantes para os médicos, incluindo os neurologistas, que poderão agora tranquilizar as suas pacientes, assegurando que a menopausa não fará com que a incapacidade causada pela esclerose múltipla se agrave mais rapidamente”.
Bridge refere que a transição para a menopausa já é desafiante, independentemente da doença, com sintomas como afrontamentos, problemas de memória, perturbações do humor e disfunção urinária, que se podem sobrepor a sintomas preexistentes relacionados com a esclerose múltipla.
“As mulheres com esclerose múltipla beneficiarão da gestão holística dos sintomas da menopausa com medidas associadas ao estilo de vida, como o exercício e a manutenção de uma dieta saudável, bem como medidas farmacológicas, como a terapia hormonal e medicamentos não hormonais para melhorar os seus sintomas e qualidade de vida”, reforça.